Acúmulo de função de trabalhadores e o adicional.

O acúmulo de função ocorre quando um trabalhador exerce, simultaneamente, atividades além daquelas previstas em seu contrato de trabalho, sem a correspondente contraprestação financeira. Esse cenário é comum em diversas empresas, especialmente em momentos de crise econômica ou restruturações organizacionais, onde os empregadores buscam reduzir custos operacionais.

Por exemplo, imagine um funcionário contratado como auxiliar administrativo. Sua função principal envolve atividades como arquivamento de documentos, atendimento telefônico e organização de agendas. No entanto, após a saída de um colega que trabalhava no setor financeiro, esse auxiliar administrativo passa a realizar também tarefas como controle de contas a pagar e a receber, emissão de notas fiscais e elaboração de relatórios financeiros, sem receber qualquer aumento salarial ou adicional por essas novas responsabilidades.

Essa situação configura um claro caso de acúmulo de função, já que o trabalhador está desempenhando atividades de dois cargos distintos, sem a devida remuneração adicional. A legislação trabalhista brasileira prevê que o empregado tem direito a receber um acréscimo salarial quando há desvio de função ou acúmulo de funções, considerando o princípio da irredutibilidade salarial e o respeito às condições contratuais pactuadas.

A necessidade de uma convenção coletiva de trabalho se torna essencial para regulamentar essas situações de maneira justa e equilibrada. As convenções coletivas são acordos firmados entre sindicatos de trabalhadores e empregadores, que estabelecem condições de trabalho específicas, benefícios, reajustes salariais, entre outros aspectos, aplicáveis a uma determinada categoria profissional.

No caso do acúmulo de função, uma convenção coletiva pode estipular critérios objetivos para definir quando ocorre o acúmulo de função, os percentuais de acréscimo salarial devidos e as formas de compensação. Por exemplo, pode-se estabelecer que o trabalhador que acumular funções por mais de 30 dias consecutivos terá direito a um adicional de 20% sobre seu salário base. Essa regulamentação traz segurança jurídica tanto para empregadores quanto para empregados, evitando litígios trabalhistas e promovendo um ambiente de trabalho mais justo.

A jurisprudência trabalhista também reforça a importância das convenções coletivas na regulação do acúmulo de função. Em diversas decisões, os tribunais têm reconhecido o direito dos trabalhadores ao adicional salarial em casos de acúmulo de função, desde que comprovada a realização de atividades alheias ao contrato original e a ausência de remuneração correspondente.

Em resumo, o acúmulo de função é uma realidade que precisa ser adequadamente regulamentada para garantir os direitos dos trabalhadores e manter o equilíbrio nas relações de trabalho. A convenção coletiva de trabalho surge como um instrumento fundamental para estabelecer regras claras e justas, assegurando que os empregados sejam devidamente compensados por todas as funções que desempenham.

O adicional pelo acúmulo de função não possui um percentual fixo determinado pela legislação trabalhista brasileira, como ocorre com o adicional de insalubridade ou de periculosidade. Em vez disso, o valor do adicional pelo acúmulo de função é geralmente definido por meio de negociações coletivas, convenções ou acordos coletivos de trabalho, ou pode ser estabelecido diretamente por decisões judiciais em casos específicos.

Aqui estão alguns pontos importantes a serem considerados:

  1. Negociações Coletivas: Sindicatos de trabalhadores e empregadores podem negociar e incluir cláusulas específicas sobre o acúmulo de função nas convenções ou acordos coletivos de trabalho. Essas cláusulas podem estabelecer critérios para caracterização do acúmulo de função e os percentuais de adicional devidos aos trabalhadores que se encontram nessa situação.
  2. Decisões Judiciais: Em caso de litígio, os tribunais trabalhistas podem determinar o pagamento de um adicional pelo acúmulo de função. O percentual do adicional será estabelecido com base na análise das circunstâncias específicas de cada caso, incluindo a natureza das funções acumuladas e o impacto financeiro sobre o trabalhador.
  3. Princípio da Equidade: Na ausência de regulamentação específica em convenções ou acordos coletivos, ou de decisão judicial, o adicional pelo acúmulo de função pode ser estabelecido com base no princípio da equidade. Isso significa que o valor deve ser justo e proporcional ao trabalho adicional realizado pelo empregado.

Em resumo, não existe um percentual fixo e único para o adicional pelo acúmulo de função na legislação brasileira. A definição desse valor dependerá de negociações sindicais, acordos coletivos e decisões judiciais, sempre considerando as especificidades do caso concreto e buscando garantir uma compensação justa para o trabalhador.

DANILO ROGÉRIO PERES ORTIZ DE CAMARGO

OABSP 241.175

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